O aposentado Ricardo Lins de Sales espera por uma cirurgia há 43 dias. Por duas vezes, o paciente entrou em jejum, mas não teve o procedimento realizado em virtude do surgimento de casos mais graves, dizem os médicos
Em 11 de janeiro, o aposentado Ricardo Lins de Sales deu entrada no Hospital de Base. Exames comprovaram um tumor benigno no cérebro na região da meninge – um meningioma. Num primeiro momento, seria realizado um atendimento ambulatorial, sem a necessidade de cirurgia. Entretanto, após avaliação da equipe da Neurocirurgia indicaram o procedimento cirúrgico, como forma de evitar grandes lesões futuramente, como a perda da visão.
Foi aí que começou o calvário. Após nove dias de internação no pronto socorro, o paciente foi transferido para a enfermaria do hospital de base, onde deveria aguardar por uma cirurgia. Toda segunda-feira, a equipe da Neurocirurgia se reúne para avaliar a situação dos casos da enfermaria e do pronto socorro, adotando seus critérios para quem entra ou não no centro cirúrgico.
“Neste processo, meu pai nunca teve sua cirurgia marcada. Há 43 dias ele ocupa a vaga de uma pessoa que necessita de um leito para o pós-operatório ou até mesmo um caso mais grave, que requer mais cuidados. Como o tumor não afetou nenhuma parte vital, ele anda, fala, enxerga e faz tudo sozinho. Não precisa nem mesmo de medicação na veia”, explica a filha do paciente e jornalista, Carol Sales da Mota.
A indignação da família começou a piorar no dia 19 de fevereiro quando o paciente foi colocado em jejum para a possível realização da cirurgia. Foram 12 horas de dieta para, somente ao final do dia, a enfermeira comunicar que, segundo aviso médico, a dieta poderia ser suspensa, visto que não haveria mais o procedimento.
Uma nova tentativa foi realizada na manhã de hoje, 24. O jejum foi iniciado à meia noite desta quarta-feira. Por volta das 9 horas, o médico responsável pelo caso do paciente, Paulo Augusto S. L. Leandro, informou que havia surgido um caso mais grave e que haveria a possibilidade de fazer a cirurgia no período da tarde. Expetativa frustrada, mais uma vez. Às 15h30 a dieta foi suspensa, ou seja, 15 horas de jejum em vão.
“O que causa revolta é colocar um paciente idoso e diabético nesta situação. São 43 dias de descaso e humilhação que comprovam, mais uma vez, a péssima gestão da saúde pública do DF. O caso do meu pai não é grave, assim como o de outros tantos pacientes que esperam por uma cirurgia há mais tempo que ele. Os médicos batem na tecla de que sempre há casos mais graves que o dele, por não se tratar de um tumor maligno. Então, minhas pergunta são: meu pai só tem direito a ter uma cirurgia rápida caso chegue lá em condições mínimas de saúde? Precisa ter um tumor maligno para fazer uma cirurgia de emergência? O fato de ser idoso, diabético e com possibilidade de lesões graves não o torna preferencial?" Acredito que, se o centro cirúrgico funcionasse de forma eficaz, ele já estaria em casa”, questiona a filha.
“As justificativas são sempre de que há casos mais graves que o dele. Então, se for assim, ele nunca vai sair daqui, pois uma passada rápida pelo pronto socorro mostra que situações urgentes chegam a todo tempo. Não é possível que não haja uma sala de cirurgia apenas para os pacientes da enfermaria, de forma que zeraria a fila”, indigna-se a filha.
Mais uma vez, a população do Distrito Federal está à mercê de uma gestão falida. Ninguém pode ficar doente... O Hospital de Base não precisa de uma reforma. Ele precisa ser destruído e erguido novamente, de preferência, com uma gestão que preze pela dignidade da pessoa humano e dê prioridade ao atendimento das demandas da sociedade na área de saúde, como prevê a Lei Orgânica do DF.
Por JDF Brasil - Com informações da Assessora de Imprensa Carol Sales
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